Ex-assessor presta depoimento e entrega extratos
bancários de suposta “rachadinha”
Bruno Soares – reportagem
Realizado por meio de videoconferência, e com seu paradeiro mantido sob sigilo, o ex-assessor Felipe Menger foi ouvido pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) com intuito de “restabelecer a verdade sobre os atos de corrupção capitaneados pelo vereador Galhardo”, em seu mandato na Câmara Municipal de Foz do Iguaçu.
A informação foi confirmada pelo próprio Felipe, que foi assistido por seu advogado Lougan Cardoso desde que decidiu informar ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) sua efetiva participação na prática popularmente conhecida como “rachadinha”.
O ex-assessor de Galhardo prestou depoimento ao GAECO no dia 14 de julho passado. Na oportunidade, informou às autoridades detalhes de sua relação com o político, bem como apresentou provas, extratos bancários e informações que comprovariam suas alegações. Conforme já publicado pelo jornal Primeira Linha, Felipe Menger decidiu entregar o esquema ao qual estaria envolvido somente após deixar Foz do Iguaçu. “Eu me senti ameaçado pelo Galhardo. Eu tenho família. Agora que deixei a cidade eu me sinto confortável em revelar toda a verdade. Eu tenho como provar cada acusação”, garantiu.
Ao jornal Primeira Linha, Felipe compartilhou extratos bancários de transações financeiras que indicam a devolução de parte dos salários que recebeu enquanto atuou como assessor parlamentar do gabinete do vereador. Com pouco mais de 20 anos, Felipe Menger chegou à Câmara Municipal em agosto de 2020 por indicação de Admilson Galhardo, filiado ao PL à época, para exercer a função de “Assessor Parlamentar PL5”, junto ao gabinete do então vereador Elizeu Liberato (PL).
Além de atuar como assessor direto de Elizeu, o profissional de marketing também trabalhou de forma paralela durante a campanha eleitoral de 2020 para Galhardo, sendo remunerado através do cargo de assessoria. Levantamento realizado com base em informações do Portal da Transparência da CMFI revela que entre agosto de 2020 e junho de 2021, Felipe recebeu R$ 83.091,66 dos cofres públicos, sendo R$ 39.172,14 pagos por meio da primeira nomeação, e outros R$ R$ 43.919,52 já por intermédio do recém-eleito Galhardo.
De acordo com Felipe Menger, o combinado com Galhardo era de que repassaria mês a mês 50% dos seus vencimentos.
“Eu não me sentia confortável com a situação. Aceitei fazer num primeiro momento porque o Galhardo dizia que a vaga no gabinete do Elizeu pertencia a ele. Depois de eleito continuei a devolver, pois ele alegava que havia divida, e que precisava por no máximo uns 4 meses, depois disso ele continuou me cobrando. Eu me recusei até ficar insustentável minha presença no gabinete e eu ser exonerado,” explica.
O ex-assessor explica que repassava o dinheiro por TED e em espécie. Teve uma ted em específico 04/11/2020, e eu escrevi “pra fechar essa bosta”. Isso eu mandei pra ele e pra deixar bem claro que estava muito insatisfeito com a situação”. A média de devoluções era de aproximadamente R$ 3.000 por mês para Galhardo. “Outra evidencia desses repasses é que eu fazia em sequência de R1 mil, mais R$1 mil, mais R$ 1 mil. Porque tem o limite. E eu atrasava o dia do repasse o máximo possível. Isso irritava muito o Galhardo que acabava me cobrando através do whats. Ele me dizia que usava esse dinheiro para custear despesas da campanha e também para ajudar a mãe dele que precisava de dinheiro”, afirma.
Questionado sobre seu sentimento a partir do momento que decidiu entregar o esquema, Felipe afirma estar aliviado. “Desde que tudo isso veio a tona eu entrei em depressão. Me senti muito envergonhado. Não é fácil entender que fez parte de algo que é errado e que precisa ser combatido. Porém, decidi assumir minha responsabilidade e estou enfrentando de frente”, garantiu.
Investigado pelo MP-PR por supostamente desviar salário de ex-assessor, vereador tentou barrar conteúdo jornalístico sobre esquema de corrupção em seu gabinete
O vereador Galhardo bem que tentou, porém, não conseguiu. Graças à decisão do juiz Gabriel Leonardo Souza de Barros, titular da 2ª Vara Cível de Foz do Iguaçu, a população iguaçuense terá acesso à série de reportagens que denuncia possível esquema de corrupção promovido pelo próprio parlamentar em seu gabinete na Câmara Municipal.
Assistido pelos advogados Eduardo Luis Sampaio e Vanessa Guilherme de Freitas, Galhardo protocolou no último dia 20 de julho, em caráter liminar com regime de urgência, um pedido para que a Justiça determinasse ao jornal Primeira Linha que não publicasse novos conteúdos jornalísticos relacionados às suspeitas de “rachadinha” que pesam em seu nome.
A iniciativa judicial do parlamentar, investigado pelo Ministério Público por desviar parte do salário de seu ex-assessor Felipe Menger, ocorreu após este jornal noticiar reportagem sob título: “Ex-assessor revela corrupção e outros crimes de vereador”. Na oportunidade, a notícia informou ainda que novas informações seriam reveladas a partir de uma série de matérias.
Além de solicitar, de maneira sigilosa, a interrupção das matérias, Galhardo requereu ainda a remoção de notícias anteriores já publicadas, tanto do site do jornal, como de sua página na rede social Facebook. Ainda não satisfeito com o pedido de censura virtual, os advogados do vereador suspeito pediram o recolhimento das bancas de jornal de todas as edições impressas que abordassem o tema.
Ao se manifestar a liminar requerida, o magistrado negou todos os pedidos. “(..) não é o caso de determinar a remoção liminar de conteúdos jornalísticos já veiculados, pois o dano gerado ao autor, se ocorrente, já se consolidou com a pretérita divulgação da matéria, descabendo, nessa hipótese, a tutela acautelatória, notadamente porque, (…) ‘devem ser evitadas quaisquer medidas, judiciais ou administrativas, que turbem o direito à livre circulação de notícias e opiniões”, pontuou o juiz.
Ao fundamentar sua posição, Gabriel Leonardo Souza de Barros destacou princípios constitucionais que norteiam a liberdade de imprensa. “Lembremos que a Constituição Federal, art. 5º, IX, assegura ‘ser livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença’. Mais ainda, no inciso XIV, garante “a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.
Para Letícia Mezzomo, diretora geral do Primeira Linha, a iniciativa do vereador Galhardo demonstra mais uma tentativa de calar a imprensa livre e, com isso, evitar que a população de Foz do Iguaçu saiba o que de fato ocorre nos bastidores da política local.
“Infelizmente, o vereador Galhardo não é o primeiro político que tenta calar o Jornal Primeira Linha. Entretanto, contamos com a atuação da Justiça para resguardar o direito que temos de levar informações que são de interesse público e que, por muitas oportunidades, os poderosos fazem de tudo para que não sejam noticiadas. O vereador Galhardo é alvo de uma ampla investigação por desviar dinheiro de seu ex-assessor Felipe Menger. Nós temos provas disso, e iremos noticiar. Ele pode não gostar, mas a população precisa saber”, conclui Mezzomo.
A série de reportagens sobre a “rachadinha” no gabinete do vereador Galhardo continua. Na próxima semana, uma live será realizada com Felipe Menger na página do jornal Primeira Linha para que a população possa encaminhar suas perguntas.