Farda, Farsa e Flerte

A FÁBULA DA RAPOSA DE FARDA

Era uma vez, numa floresta chamada Iguçulândia, que tinha uma raposa vestida de azul, sempre elegante, com botas engraxadas e olhar afiado. Diziam que ela era servidora da ordem, mas tinha uma missão paralela: conquistar o poder, custasse o que custasse.

A raposa não caçava sozinha. Tinha ao seu redor uma matilha de cordeiros disfarçados de amigos, que a aplaudiam de dia e a expunham à noite. Era chamada pelos burburinhos da floresta de “corrimão”: todos os que passavam, escorregavam nela.

Seu talento não era prender bandidos, mas fisgar corações comprometidos. Quanto mais poderoso o lobo, mais encantado ele ficava com os sorrisos da raposa. Não era amor. Era estratégia.

Ela dizia ser defensora dos bons costumes, fiel ao livro das regras. Mas bastava cair a noite para que as fábulas virassem contos de outra natureza. Conservadora aos domingos, libertina nas madrugadas.

Com o tempo, a raposa quis mais. Tentou pintar as penas, se aliou a corvos e cochichava no ouvido dos que mandavam: “Me dê um cargo e lhe darei lealdade”. Ela queria ser a dona da toca da mulherada da floresta — e quase conseguiu.

Mas nem tudo era brilho no pelo. Os ventos sussurravam que a raposa devia a muitos, vivia de aparências e já havia devorado a reputação de um tatu da corporação, só pra sair bem na foto.

Ainda assim, ela segue firme, com olhar doce e língua afiada, pronta para dar o bote. Porque em Iguçulândia, nem tudo é o que parece. E às vezes, a farda mais limpa esconde as garras mais sujas.

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