Educação especial em xeque: famílias se mobilizam para defender a APAE

Foto: Divulgação APAE

Neste domingo (22), às 10h na Rede Massa | SBT, o programa Paraná da Gente, comandado por Deoclecio Duarte, coloca em pauta um debate urgente: o que está por trás da defesa da inclusão e o que está em risco para quem sempre viveu à margem?

Por mais de sete décadas, a APAE tem sido sinônimo de inclusão real para pessoas com deficiência no Brasil. Com atuação direta na educação, saúde, assistência social e apoio às famílias, as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais se tornaram referência em acolhimento e desenvolvimento. Só no Paraná, são 343 unidades, que hoje atendem milhares de alunos com recursos do governo estadual.

Mas esse modelo está ameaçado.

Uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 7796), ajuizada no Supremo Tribunal Federal, questiona a legalidade das leis estaduais que autorizam o repasse de verbas públicas às APAEs para a oferta de educação especial. A ação, proposta pela Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, defende que o financiamento público deve priorizar apenas a educação inclusiva em escolas regulares.

A proposta acendeu o alerta entre famílias, educadores, especialistas e parlamentares paranaenses.

RELATO DAS MÃES

A reportagem ouviu mães que vivem na prática o impacto da falta de estrutura nas escolas regulares. Mirian Stuelp, mãe de Bruno, de 38 anos, conta que tentou incluir o filho em uma escola convencional. A experiência durou pouco.

“Ele não se adaptou. Faltava preparo, faltava acolhimento. Voltamos para a APAE, que sempre esteve ao nosso lado”, relata.

Situação semelhante viveu Eliane Rohden, mãe de Weslei. Após quatro anos em uma escola comum, ela precisou recorrer ao Ministério Público para garantir um atendimento digno ao filho.

“Não havia estrutura nem profissionais preparados. Falam em inclusão, mas a realidade é outra”, denuncia.

A FORÇA DA APAE DE MEDIANEIRA

Em Medianeira, a APAE tem uma história marcada por pioneirismo e dedicação. Fundada em 1973 por Nadir Della Pasqua, a entidade se mantém ativa graças ao apoio da comunidade e à organização de sua gestão.

Hoje, o neto da fundadora, Giordano Della Pasqua, é advogado e um dos principais defensores da causa.

“Essa associação mudou a vida de muitas famílias. É um modelo que funciona. Tirar o apoio financeiro seria um retrocesso cruel”, afirma.

A estrutura da unidade impressiona: quadra de esportes, piscina térmica, salas acessíveis e uma equipe multidisciplinar que reúne psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e professores especializados.

DIREITO OU PRIVILÉGIO?

Hyorana Sbksc, fonoaudióloga da unidade, destaca que a APAE não apenas ensina, mas desenvolve. “Aqui, cada aluno tem um plano individualizado. Trabalhamos com técnica e afeto. O fechamento das APAEs seria devastador.”

A psicóloga Thainá Caroline lembra que países desenvolvidos valorizam a educação especial como parte da inclusão, e não como oposição a ela. “Pessoas com deficiência têm realidades diferentes. A escola comum, por mais bem-intencionada, muitas vezes não dá conta.”

Ela cita ainda exemplos de ex-alunos hoje inseridos no mercado de trabalho ou na universidade. “Isso é inclusão de verdade.”

QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA

Se o STF acatar a ADI 7796, as APAEs do Paraná poderão perder os recursos públicos que viabilizam seus atendimentos. Para muitas famílias, isso significaria o fim do suporte educacional e terapêutico de qualidade.

“Nem todas as famílias conseguem pagar atendimento particular. A APAE é, muitas vezes, a única alternativa”, reforça Mirian.

O deputado federal Fernando Giacobo manifestou apoio à Federação das APAEs e afirmou que seguirá lutando para garantir a manutenção dos recursos.

“A APAE não é inimiga da inclusão. Ela é parceira da dignidade”, declarou.

A LUTA

A inclusão precisa ser plural. Precisa respeitar as particularidades de cada ser humano, e permitir que as famílias escolham o caminho mais adequado para seus filhos.

A APAE transforma vidas. Mas quem vai defendê-la agora?

 

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