
Durante 37 anos, o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário de Foz do Iguaçu (SITROFI) teve um único rosto, uma única voz, uma única figura no trono: Vitorassi. Um domínio longevo, atravessando décadas como uma monarquia sindical que se blindou no tempo, criando raízes profundas na estrutura sindical da cidade.
Mas toda hegemonia, por mais estável que pareça, está sempre à beira de ruir. E, neste junho de 2025, ela finalmente ruiu.
Rodrigo Andrade de Souza, eleito presidente com 389 votos, encabeçou a única chapa registrada – o que, à primeira vista, poderia parecer consenso, mas na verdade escancara outro problema crônico da velha gestão: a sistemática dificuldade imposta ao surgimento de chapas concorrentes. A história se repetia eleição após eleição, com barreiras burocráticas e manobras internas que impediam a livre disputa democrática.
É aí que entra a analogia com Otávio Augusto, o primeiro imperador de Roma. Quando assumiu o controle do império após o assassinato de Júlio César, Otávio parecia apenas mais uma peça na engrenagem da velha república. Mas ao consolidar o poder, surpreendeu a todos ao fazer diferente: cortou laços, reorganizou estruturas e cravou sua própria marca na história como Augusto, o restaurador da ordem e da grandeza romana.
Rodrigo não precisou matar seu antecessor. A estrutura já estava morta por dentro.
Agora, a missão que lhe cabe é igualmente desafiadora: romper com a cultura de egos, personalismos e aparelhamento sindical que marcou os últimos 37 anos. Se seguir os passos de Augusto, Rodrigo pode reconstruir o que Vitorassi petrificou: um sindicato vivo, atuante e conectado com a base, não com vaidades internas ou interesses políticos obscuros.
Maquiavel, se ainda estivesse entre nós, escreveria: “Não há nada mais difícil de empreender, mais perigoso de conduzir, nem mais incerto em seu sucesso, do que assumir a liderança na introdução de uma nova ordem”. Rodrigo terá inimigos ocultos, sabotagens sutis e cobranças urgentes. Mas também terá a oportunidade única de fazer história, não como sombra de Vitorassi, mas como sua antítese.
Porque, no fim das contas, o sindicalismo não pode ser trono nem altar. Precisa voltar a ser trincheira. E isso só se conquista com coragem, firmeza e ruptura.
A história está olhando. Que ele não decepcione.