
A regravação de Vale Tudo, um dos maiores clássicos da teledramaturgia brasileira, chegou ao horário nobre da Globo com a promessa de manter a essência da obra original, mas modernizando seus temas. No entanto, poucos capítulos após a estreia, a novela já despertou a ira de parte do público, principalmente das mulheres de Foz do Iguaçu.
O motivo? Um diálogo entre os personagens Franklin (Cauã Reymond) e Samuel Melo, exibido entre o segundo e o terceiro capítulo, gerou indignação. Na cena, Samuel se refere às mulheres de Foz do Iguaçu como “capiau e lanchinho”, termos que rapidamente viralizaram nas redes sociais e acenderam debates sobre estereótipos regionais e machismo na dramaturgia brasileira.
Entre o orgulho e a revolta
A princípio, a cidade estava empolgada com a novela, que teve suas cenas iniciais gravadas na região, valorizando a paisagem única das Cataratas do Iguaçu. No entanto, a empolgação se transformou em frustração quando o texto sugeriu uma visão pejorativa das mulheres locais.
“Capiau” é um termo historicamente usado para se referir a pessoas do interior, geralmente de maneira depreciativa, como sinônimo de caipira ou roceiro. Já “lanchinho”, no contexto apresentado, tem uma conotação ainda mais problemática, sugerindo que as mulheres de Foz seriam apenas uma diversão passageira para os personagens da trama.
“Isso foi um soco no estômago”, disse a advogada Ana Paula, moradora de Foz. “A gente já enfrenta muito preconceito e agora somos reduzidas a estereótipos baratos em rede nacional.”
A responsabilidade do roteiro
A indignação ganha ainda mais força pelo fato de o remake ser assinado por Manuela Dias, roteirista responsável por Amor de Mãe (2019). Muitas telespectadoras questionaram como uma escritora mulher pôde permitir que esse tipo de diálogo fosse ao ar.
“Se essa novela fosse escrita por um homem, já estaríamos massacrando nas redes sociais. Mas e agora? Será que o machismo muda de figura dependendo de quem escreve?”, comentou uma internauta no X (antigo Twitter).
A Globo ainda não se manifestou oficialmente sobre a polêmica, mas o assunto já rendeu discussões em diversos programas de entretenimento e está dividindo opiniões.
A polêmica levanta uma questão importante: até que ponto a ficção pode se apoiar em estereótipos sem reforçar preconceitos reais? Enquanto a resposta não vem, uma coisa é certa: as mulheres de Foz do Iguaçu não vão deixar essa passar em silêncio.