CRÔNICA
Eu sempre acreditei que o amor deveria ser como uma dança: duas pessoas em sintonia, respeitando o ritmo uma da outra. Mas quem diria que um dia eu seria a pessoa pisoteada nessa coreografia? Perdoar uma traição nunca esteve no meu roteiro de vida, mas, olha só, aqui estou eu, reorganizando os pedaços e tentando fazer sentido disso tudo.
Quando o impacto da decepção veio, foi como se o chão tivesse desaparecido. Uma sensação de queda infinita. Você conhece a história: éramos dois, cheios de promessas, planos e aquela confiança que a gente acha que é inabalável. E então, bam! A realidade esfrega na sua cara que as coisas nem sempre são como parecem.
No meio desse furacão, percebi algo que mudou tudo: o problema nunca foi a outra pessoa. Não me leve a mal — a culpa é dela sim, mas o ponto é que o verdadeiro campo de batalha é dentro de nós mesmos. O quanto estamos dispostos a perder o controle sobre quem somos por causa de quem amamos? A verdade é que, às vezes, confundimos entrega com autoabandono.
Eu gosto de um trecho de uma música da Alcione que diz: “Eu não como na mão de quem brinca com a minha emoção”. Essa frase é um soco no estômago, não acha? Porque é exatamente isso: o limite entre amar e se anular está em quanto você permite que o outro manipule aquilo que há de mais puro em você — sua capacidade de sentir.
E foi aí que entendi que o perdão não é um atestado de burrice. Perdoar é sobre olhar para dentro, não para o outro. Eu escolhi perdoar porque guardar o rancor seria como carregar um veneno esperando que o culpado morresse. Perdoei porque precisava de paz, mas também porque, no fundo, percebi que a dor me ensinou algo valioso: não importa o quanto você ame alguém, a pessoa mais importante do mundo ainda é você.
Claro, eu não vou mentir e dizer que saí dessa como um ser iluminado, pronto para dar aula de resiliência. Tem dias em que ainda sinto a cicatriz arder. Mas agora eu sei que amar não pode significar colocar o coração na bandeja esperando que o outro o trate como merece. Amar é segurar sua própria mão quando o outro solta.
E assim vou seguindo. Com cuidado, com mais amor-próprio e, acima de tudo, com a certeza de que ninguém mais vai brincar com a minha emoção. Não porque não posso perdoar, mas porque não aceito menos do que aquilo que mereço.